«Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser filósofo não é apenas ter pensamentos subtis, nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança. É solucionar alguns problemas da vida não só na teoria mas também na prática.
(...)
Digo que os estudantes não deviam encenar a vida, ou simplesmente estudá-la, enquanto a comunidade os sustenta nessa dispendiosa brincadeira, mas seriamente vivê-la do começo ao fim. Como poderiam os jovens aprender melhor a viver senão tentando a experiência da vida de uma vez por todas? Parece-me que isso lhes exercitaria a mente tanto como a matemática. Se eu quisesse, por exemplo, ensinar a um rapaz arte e ciências, não faria o que costumam fazer, isto é, mandá-lo para a escola, onde se professa e se pratica tudo menos a arte de viver, onde o rapaz vai observar o mundo através dum telescópio ou microscópio e nunca a olho nu; onde vai estudar química e não aprender como é feito o pão, ou mecânica e não saber como é obtida; onde vai descobrir novos satélites de Neptuno sem ver os grãos de poeira nos seus próprios olhos ou de que vagabundo ele mesmo é um satélite; onde vai ser devorado por monstros que enxameiam em seu redor enquanto contempla monstros numa gota de vinagre. Quem, ao fim de um mês, teria aprendido mais, o rapaz que fez a sua própria faca de bolso do minério que escavou e fundiu, lendo apenas o necessário para isso, ou o que frequentou aulas de metalurgia no instituto e nesse meio tempo recebeu do pai o presente dum canivete Rodgers? Qual dos dois correria mais o risco de cortar os dedos?»
Economia
Cap. 1
Walden ou a vida nos bosques
Henry David Thoreau
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