sexta-feira, 20 de julho de 2012

Página-a-página #23


«Hoje em dia há professores de filosofia, mas não há filósofos. Contudo é admirável ensinar filosofia porque um dia foi admirável vivê-la. Ser filósofo não é apenas ter pensamentos subtis, nem sequer fundar uma escola, mas amar a sabedoria a ponto de viver, segundo os seus ditames, uma vida de simplicidade, independência, magnanimidade e confiança. É solucionar alguns problemas da vida não só na teoria mas também na prática.
(...)
Digo que os estudantes não deviam encenar a vida, ou simplesmente estudá-la, enquanto a comunidade os sustenta nessa dispendiosa brincadeira, mas seriamente vivê-la do começo ao fim. Como poderiam os jovens aprender melhor a viver senão tentando a experiência da vida de uma vez por todas? Parece-me que isso lhes exercitaria a mente tanto como a matemática. Se eu quisesse, por exemplo, ensinar a um rapaz arte e ciências, não faria o que costumam fazer, isto é, mandá-lo para a escola, onde se professa e se pratica tudo menos a arte de viver, onde o rapaz vai observar o mundo através dum telescópio ou microscópio e nunca a olho nu; onde vai estudar química e não aprender como é feito o pão, ou mecânica e não saber como é obtida; onde vai descobrir novos satélites de Neptuno sem ver os grãos de poeira nos seus próprios olhos ou de que vagabundo ele mesmo é um satélite; onde vai ser devorado por monstros que enxameiam em seu redor enquanto contempla monstros numa gota de vinagre. Quem, ao fim de um mês, teria aprendido mais, o rapaz que fez a sua própria faca de bolso do minério que escavou e fundiu, lendo apenas o necessário para isso, ou o que frequentou aulas de metalurgia no instituto e nesse meio tempo recebeu do pai o presente dum canivete Rodgers? Qual dos dois correria mais o risco de cortar os dedos?»
Economia
Cap. 1
Walden ou a vida nos bosques
Henry David Thoreau

Uma boa história nunca acaba #16


«Uma profunda gratidão pelo facto de se estar vivo.»

Perferct sense (2011). Drama. Romance. Ficção científica. David Mackenzie. Imaginemos que pouco a pouco começamos a perder os sentidos. Primeiro o paladar e o olfacto, depois a audição e por fim a visão. O que é então para nós o mundo? Como continuará a vida? Como viver apenas das memórias? Um filme que nos faz sem dúvida questionar até que ponto os nossos sentidos influenciam o nosso dia-a-dia e a maneira como interpretamos o mundo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Página-a-página #22



«Renasci. Esta é a minha alvorada. A verdadeira vida acaba de começar. 
Modo de vida deliberado: atenção consciente ao mais importante da vida, e uma atenção constante ao nosso ambiente imediato e aos cuidados a ter com ele, exemplo: Um emprego, uma tarefa, um livro; algo que exija uma concentração eficaz. (A circunstância não tem valor. É a forma como nos relacionamos com uma situação que tem valor. O verdadeiro significado reside no relacionamento pessoal com um fenómeno, no que significa para nós.)»

O interior do Alasca
Cap. 16
Into the Wild
Jon Krakauer

terça-feira, 10 de julho de 2012

Página-a-página #21


«Gostaria de repetir o conselho que te dei antes, que devias mudar radicalmente o teu estilo de vida e começar a ter coragem para começar a fazer coisas que nunca antes tenhas pensado em fazer ou que tenhas receado tentar. Há tantas pessoas que vivem infelizes e que no entanto não tomam a iniciativa de alterar a sua situação porque ficam condicionadas a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo. Tudo isto pode parecer conferir-lhes paz de espírito. No entanto, na realidade, nada é mais prejudicial para um espírito aventureiro no interior de um homem do que um futuro seguro. O princípio básico do espírito livre de um homem é a sua paixão pela aventura. A alegria de viver provém dos nossos encontro com novas experiências, e por isso não existe  maior prazer do que ter um horizonte em eterna mudança, para cada dia ter um sol novo e diferente. Se desejas tirar mais partido da vida, Ron, deves perder a tendência para a monótona segurança e adoptar um estilo de vida agitado que, à primeira vista, te poderá parecer extravagante. Mas quando te habituares a esse tipo de vida, compreenderás todo o seu significado e incrível beleza.
(...) Não te instales sentado num só lugar. Mexe-te, sê nómada, faz de cada dia um novo horizonte. Ainda vais viver durante muito tempo, Ron, e seria uma pena se não aproveitasses a oportunidade para revolucionares a tua vida e partir para um novo reino de experiências.
Se pensas que a Alegria emana, apenas ou principalmente, das relações humanas, estás errado. Deus colocou tudo à nossa volta. Está presente no tudo e no nada que possamos experimentar. Apenas temos de ter a coragem para renegar o nosso estilo de vida habitual e empreender uma vida fora do convencional.»

Anza-Borrego
Cap. 6
Into the wild
Jon Krakauer

quarta-feira, 4 de julho de 2012


«Esta coisa com que estamos envolvidos, o mundo é uma oportunidade para provar quão empolgante a alienação pode ser. A vida é uma questão de um milagre reunido por momentos estupefactos por estarem uns junto aos outros. O mundo é um exame para ver se conseguimos ascender a experiências directas. A visão é um teste para ver se podemos ver para lá dela. A matéria é um teste à nossa curiosidade. A duvida é um exame à nossa vitalidade. Thomas Mann escreveu que preferia participar na vida do que escrever. (...) Deduz-se que não se pode entender a vida e viver simultaneamente. Não concordo inteiramente. Ou seja, não discordo propriamente. Diria que a vida entendida é vida vivida. Mas os paradoxos irritam-me.»

«Um amigo disse-me uma vez que o pior erro que se comete é pensar-se que se está vivo quando, de facto, se dorme na sala de espera da vida. O truque é combinar as capacidades racionais da vigília com as possibilidades infinitas dos sonhos. Porque se conseguirmos isso, conseguimos tudo. Já tiveste um emprego que odiavas, mas que te empenhavas muito? Um longo, duro dia de trabalho, voltas para casa, deitas-te, fechas os olhos. Depois, acordas e percebes que todo o dia de trabalho fora um sonho. Já é suficiente mau vendermos a nossa vida por um ordenado mínimo mas, agora, também ficam com os sonhos, mas de graça.»